sábado, 8 de outubro de 2011

Cai ou não Cai?


A queda da URSS, no final de 1991, levou a abertura de muitos países socialistas e sua reintegração na ordem mundial capitalista, com ou sem sucesso. Porém deixou alguns “órfãos” do Império Vermelho, dentre eles, a Republica Democrática Popular da Coréia, mais conhecida como Coréia do Norte. O país sofre vários problemas econômicos, energéticos e uma grave crise alimentar, situações que só não são piores graças a doações vindas de outros governos.

Durante esta década, a Coréia do Norte manteve um nível baixo, mas regular de crescimento do PIB, melhoria insuficiente para quem amarga o 95° lugar entre as economias mundiais e 145° lugar no ranking do PIB per capita. Entretanto, o modelo econômico e as indústrias ainda refletem o sucateado sistema que permitiu o crescimento norte-coreano dos anos 70: o trio economia planificada e centralizada, indústria de base e indústria bélica. A novidade agora são os investimentos em tecnologia nuclear com claro viés para a construção de armas de destruição em massa, a despeito de seu uso ser melhor justificado para a geração de energia, um problema crônico no país, que depende do petróleo chinês vendido a “preços amigáveis”.


 No começo dos anos 90, um duro baque para o governo norte-coreano, na sequência da queda do bloco socialista, uma sequência de climas desfavoráveis da início a uma crise alimentar crônica na Coréia do Norte, não solucionada até hoje. Um olhar mais crítico não culpará totalmente o acaso ou a infelicidade do país: a produtividade no campo caiu drasticamente após a realocação e coletivização de terras no governo Kim Il-sung, porém essa faceta ficou maquiada sob acordos favoráveis de comércio com a União Soviética, até os anos 80, e a China. Hoje, o problema só não é mais grave graças a ajuda de -pasmem! – Coréia do Sul, Estados Unidos, China, etc., e graças a uma espécie de chantagem atômica, trocando alimentos pela diminuição do arsenal e dos centros nucleares.

 A despeito da crise alimentar, da crise energética e da intensa repressão sofrida pela população, o país passa por um processo de sucessão no poder. O atual comandante, Kim Jong-il está com 69 anos e não há como saber precisamente seu estado de saúde devido ao forte controle da imprensa pelo governo da Coréia do Norte. O que se sabe é que ele está preparando seu filho Kim Jong-un para ocupar o cargo de chefe-de-estado norte coreano, o que se especula ser do desagrado da ala mais linha-dura e militarizada do Partido Comunista, o que poderia gerar um racha ou enfraquecimento do poder. Mas como tudo na Coréia do Norte é nebuloso e as únicas fontes oficiais que temos são controladas diretamente pelo próprio estado, tudo pode não passar do campo da suposição.

Fome, crise energética, uma possível crise de sucessão nos próximos anos…o palco está armado. Os primeiros anos de Kim Jong-un no poder vão definir os rumos e a existência da Coréia do Norte como Estado socialista e caso isso não seja possível, uma possível transição para o capitalismo. Se será uma reunificação com a Coréia do Sul, abertura pacífica para o capitalismo ou em um cenário mais trágico envolvendo alguma espécie de conflito. E para o tão sofrido povo norte-coreano, a forma da transição fará toda a diferença.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Relatório – Palestra (Conectas), 23 de agosto de 2011


APRESENTAÇÃO
Este relatório é fruto de uma palestra de ativistas de Direitos Humanos da Birmânia para representantes de organizações, instituições e coletivos brasileiros. Estiveram presentes:
Palestrantes:
O Doutor Thaung Htun, médico de formação, deixou o país em 1988, após a repressão de protestos pró-democráticos no governo de Mianmar; é atualmente advogado ativista e parte do governo em exílio birmanês – é representante na ONU e articulador com governos e ministérios de relações exteriores.
Noh Ah é ativista e co-coordenadora da Associação de Mulheres Kachin, a qual faz um levantamento de dados e apoia mulheres que sofreram abusos e violações de direitos.
Demais participantes:
Henrique de Paula Finoti (Núcleo de Situação Carcerária - Defensoria Pública de São Paulo), Suelaine Carneiro (Geledes Instuto da Mulher Negra), Yi Shin Tang (IRI-USP), Táli Pires (CDHIC-Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante), Camila Asano (Conectas), Letícia Simões Gomes (NERI-USP).
O objetivo desta vinda foi divulgar e agregar apoiadores para promover uma pressão interna e externa sobre governo brasileiro, na tentativa de angariar apoio para a próxima Assembleia Geral da ONU (novembro de 2011); a mesma contará com um pleito sobre a criação de uma Comissão de Inquérito com o escopo de averiguar a existência de violações sistemáticas de Direitos Humanos na Birmânia.
Observação: Mianmar será utilizado para se referir ao governo autocrático; birmaneses para a população sob o regime militar e Birmânia para o governo em exílio.

EXPOSIÇÃO
É consenso entre os ativistas que o espaço para a atuação do terceiro setor e do resto da sociedade civil em Mianmar é muito restrito – a repressão e perseguição são muito presentes – de forma que grande parte das organizações de Direitos Humanos tem sua sede em países vizinhos (tais como Tailândia e Índia); essa conformação gera maior exposição das condições do regime autocrático, o que é considerado um grande progresso pelas organizações. Por outro lado, há uma grande tendência à articulação dos diversos ramos da sociedade civil (por conta da repressão política), como sindicatos, ambientalistas, advogados, associações de mulheres, construtores de uma Nova Constituição e ONGs de Direitos Humanos.
Ainda que seja um país rico em recursos naturais, Mianmar é considerado um Estado Falido e está dentre os países menos desenvolvidos do mundo (IDH de 2010: 0,451). Sua crise está embasada em três pilares fundamentais: altos gastos militares em função de uma guerra civil de mais de 30 anos, isolamento e gerenciamento inadequado da economia – a única área que apresenta crescimento é a produção e exportação de ópio e o tráfico de pessoas.

Mianmar é dividida em sete Estados, com maioria étnica dos birmaneses, mas com presença total de 135 grupos étnicos; um deles, os Kachin, sofrem especialmente com discriminação por parte do governo central. Localizados, em sua grande maioria, no Estado Kachin e no nordeste do Estado Shan, habitam também regiões da China e da Índia. Os Kachin são tradicionalmente habitantes das colinas e exercem profissões relacionadas à agricultura.
Em 1961, devido a políticas discriminatórias do governo central (militar), parte dos Kachin organizou uma resistência armada (KIA – Kachin Independence Army) – desde então, há partes de Mianmar que são controladas por estes grupos de resistência. Os birmaneses vêm sofrendo com a guerra civil, com a realocação forçada da população e com violação de outros Direitos Humanos. Foi contabilizado cerca de 1 milhão de deslocados internos, 1400 refugiados e 1 milhão de trabalhadores migrantes sem documentação na Tailãndia. No que tange a legislação migratória em Mianmar, nota-se uma clara restrição às liberdades de ir e vir: é bastante ilustrativa a necessidade legal de registrar quantas pessoas vive em cada casa, devendo, para pernoitar em outro local, pedir permissão ao governo local; existe também um registro nacional que não concede mobilidade dentro do Estado: para viajar, é preciso pedir autorização e apresentá-la nos diversos pontos de averiguação, cujo objetivo é controlar as ações de ativistas. Além deste claro exemplo, há grande intolerância do governo à oposição, com políticas de encarceramento em massa, tortura, e prisão sem garantia de direito de defesa – ou seja, não é possível acessar advogados antes do julgamento.
A conjuntura atual de Mianmar apresenta sinais de tensionamento – desde a libertação da líder Aung San Suu Kyi, em novembro de 2010, há uma intensificação dos movimentos contrários ao regime e pró-democráticos; as revoluções árabes e levantes que caracterizaram a Primavera dos Povos parecem contribuir para a articulação interna dos insatisfeitos com o governo central.
Como Mianmar tem sido assunto de várias resoluções da ONU, e o último relator enviado ao Estado afirmou a existência de uma violação massiva de DHs e crimes contra a humanidade, os ativistas birmaneses vêm procurando articular apoio para a criação de uma Comissão de Inquérito por meio da 66ª Assembleia Geral, a qual ocorrerá em novembro deste ano. Esta Comissão elaboraria um relatório com recomendações a serem seguidas para uma transição para a democracia, sem a presença de investigações e perseguições dos violadores. Ainda assim, encontra grande relutância por parte do governo central.
Posicionamento dos países vizinhos
Ainda que os países fronteiriços tenham vários problemas com a imigração ilegal, o tráfico de pessoas e as massas de refugiados, não há interesse em promover um diálogo que convirja com cessação de violações de Direitos Humanos e uma transição democrática, ainda que esta seria proveitosa para todos da região, no longo prazo. A China, especificamente, mantém uma política de cooperação com o governo de Mianmar, que inclui o retorno forçado daqueles que pediram pela condição de refugiados – vale diferenciar, entretanto, as ações do governo chinês e da população, a qual acolhe os imigrantes clandestinos.
Como os países da região não se interessam pelo assunto, o governo em exílio, se voltou para os países ocidentais em busca de apoio, ainda que não considerem um apoio muito efetivo.
Anistia
A Anistia tem sido negociada pelo movimento pró-democrático, ainda que a opção preferencial seja a instauração de uma Comissão da Verdade. Todavia, o regime decretou uma auto-Anistia a seus operadores – mas não aos transgressores da ordem – através da nova Constituição, promulgada no ano passado.

REFERÊNCIAS EXTERNAS À REUNIÃO

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Documento feito em parceria entre Conectas e os defensores birmaneses de DHs

Como vem se tentando divulgar aqui no Brasil, em novembro será votada, na 66ª Assembleia Geral da ONU, a criação de uma Comissão de Inquérito de caráter investigativo na Birmânia. A ONG Conectas, em parceria com os ativistas Dr. Thaung Htun (Diretor Executivo do Burma Fund) e Noh Ah (co-coordenadora da Associação das Mulheres Kachin), elaborou um documento base sobre a situação dos Direitos Humanos na Birmânia.
Aqui fica o acesso para o documento. Ajudem a divulgar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A China por uma Coréia Reunificada


A China tem uma política externa de longo prazo equivocada para a península coreana que é proteger e manter o regime norte-coreano para evitar uma Coréia reunificada.  No entanto, penso que a estratégia chinesa é míope ao pensar que dividida a península, a China impera. O melhor para a China seria uma Coréia reunificada de forma pacífica.

Kim-Jong-un
Para realizar a atual estratégia, a China vê como primordial manter sua influência sobre a Coréia do Norte, protegendo-a. Isso porque espera ter ainda mais influência sobre a nova liderança norte-coreana, com a iminente morte de Kim Jong-il,mantendo a Coréia do Norte como um país satélite e um “buffer zone” entre a China e os aliados dos EUA: Coréia do Sul e Japão.Tudo parece apontar que o sucessor será o inexperiente e jovem terceiro filho do líder norte-coreano, Kim Jong-un.Ele precisará do apoio chinês para se estabelecer no poder em um país marcado por uma crise econômica estrutural  e  grande insatisfação popular.

A questão é se a uma Coréia do Norte satélite ou uma Coréia unida serviria melhor aos interesses chineses. A lógica chinesa por trás da atual estratégia é simples e antiga: manter a qualquer custo um Estado tampão, motivo pelo qual os chineses se envolveram na Guerra da Coréia na década de 50.

No entanto, existem três erros. O primeiro erro é acreditar que a situação norte-coreana é sustentável, já que o Estado está à beira da ruína. O segundo erro é que a China conseguiria controlar a Coréia do Norte.O atual líder norte-coreano tem uma política externa chamada  de “madman policy” e nada podemos prever com certeza a respeito do seu filho.

O terceiro erro é considerar que uma Coréia unida seria uma Coréia pró-EUA ou mesmo uma Coréia que poderia contrabalancear o poderio chinês. Primeiro, a Coréia mesmo unida não tem recursos para contrabalancear a China. Além disso, uma Coréia reunificada, sob a benção chinesa, seria um sério golpe ao  poder norte-americano na região.

Isso porque a legitimidade para a presença norte-americana na região está baseada fortemente na existência da Coréia do Norte. Com a Coréia unida, provavelmente, o apoio à presença dos EUA na região sofreria um forte abalo tanto entre os coreanos como entre os japoneses.Na verdade, entre os japoneses tal presença já é bem controversa, haja visto a queda de popularidade de Hatoyama, quando ele cedeu a pressão norte-americana no caso da base militar de Okinawa, e que acabou derrubando-o do cargo de primeiro-ministro.

O objetivo correto para a política externa chinesa seria ajudar as Coréias a se reunificarem, aproveitando a oportunidade única que será a futura troca de liderança norte-coreana para pressionar o país a estreitar laços com a vizinha do sul até um ponto onde se comece a negociar a desnuclearização (questão que também interessa a China) e depois a reunificação. A estabilidade na região continuaria, a China angariaria um enorme prestígio como ator responsável e fortaleceria o leste asiático como área de influência chinesa.

A China poderia até mesmo ajudar a Coréia unificada a reconstruir a parte norte do país, o que conjuntamente com a crescente interdependência econômica entre a China e Coréia do Sul, poderia atrair a Coréia para a esfera de influência chinesa ou pelo menos torná-la neutra.

Para isso, Beijing deve manter sua política ambígua, no curto prazo, de se mostrar com um ator responsável, e ai mesmo tempo proteger a Coréia do Norte de sanções a fim de controlá-la minimamente e esperar pela troca de liderança.Em suma, contrariamente ao que diz o provérbio “dividir para imperar”, a China deveria, no caso coreano, “ajudar a reunificar para imperar”.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Minorias japonesas: imigrantes e credo

Os muçulmanos têm grande aceitação dentro do Japão, onde as mesquitas são centros em que a comunidade islâmica se reúne não só para rezar, mas também para confraternizar. As dificuldades enfrentadas se relacionam mais ao mercado de trabalho, dado que algumas mulheres têm dificuldade de conseguir um emprego devido ao uso do véu. Além disso, eles encontram obstáculos na compra de alimento com o abatimento correto.
A situação dessa minoria tem deteriorado desde o 11 de setembro de 2001, em função da pressão do governo americano sobre o governo japonês, para investigar possíveis terroristas no território japonês. O problema então se dá entre o balanceamento entre dois tipos de direitos: o direito à segurança e o direito à privacidade. O vazamento de dados de suspeitos de atividade terrorista pelo governo japonês ilustra o caso.
A inexistente incidência de atentados nas ilhas japonesas indica que não há atuação da Al Qaeda na ilha e, portanto não haveria razões para estas investigações. Todavia, argumenta-se comumente que o terrorismo não respeita limites, logo sua "caça" deve ser profunda e irrestrita.
Sobre o vazamento de informações de suspeitos, concluiu-se que o balanceamento pendeu muito para o lado da segurança, pois os requisitos para ser suspeito eram poucos (ser mulçumano e ter tido contato com pessoas fora do país) e as medidas, como prisão, foram excessivamente severas.
Entre os imigrantes, discutiu-se detalhadamente os dekasseguis, os quais são brasileiros descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão, principalmente a partir da década de 80. Contudo, enfrentaram e enfrentam problemas como a pequena oferta de escolas que ensinam o português – desta forma, os filhos dos dekasseguis acabam por aprender somente o japonês, não conseguindo se comunicar com os familiares em português. E ainda quando essas escolas existem, são de qualidade inferior à média japonesa. Assim, filhos de dekasseguis têm oportunidades inferiores aos japoneses e sofrem de algum preconceito da sociedade. Com a crise de 2008, muitos dekasseguis foram demitidos, e passaram por situações de extrema necessidade, passando até a mendigar.
Uma característica importante é que esta minoria não possui uma associação que defenda seus interesses e seus direitos, como os burakumin.
A situação dos imigrantes coreanos também foi debatida. Além de terem sido vítimas de violência histórica por conta da colonização japonesa, a divisão das Coreias também mostrou-se um problema, pois atingiu as identidades desses coreanos que viram do Japão seu país ser divido. Fez-se uma alusão a situação de Berlim, feita literalmente do dia para a noite. Citou-se ainda que a maior parte das escolas coreanas no Japão é ligada à Coreia do Norte e mandam recursos para o país.
Contudo, comentou-se que as placas de trânsito japonesas agora têm informações em coreano, o que indica uma maior integração cultural entre esses dois países também pelo turismo.
A política pan-asiática de Hatoyama foi lembrada, ainda que não tenha vingado por problemas de delimitação de países (uma vez que Rússia, EUA e EU queriam entrar). Foi dito que em muitos lugares da Ásia a homossexualidade é crime – tendo como exemplo Cingapura, em que intelectuais acadêmicos defendem a criminalização da homossexualidade.
Finalmente, discutiu-se no grupo sobre os chineses enquanto parcela considerável dos imigrantes no solo japonês – a discriminação sofrida por estes é bem menor daquela dos coreanos, mulçumanos e dekasseguis.

domingo, 10 de abril de 2011

Minorias japonesas: étnicas e sexuais

A grande questão em volta do tema de minorias é se devemos assimilar os segmentos sociais como integrantes da sociedade – de características auto-proclamadas homogêneas – ou não. Ao assimilá-las, acabamos por destruir as referências culturais que os distinguiam da sociedade, mas colocamos um fim no processo de discriminação, pois contribuímos para a homogeneização social. Entretanto, a não integração desses grupos como identidade reconhecida e preservada nos expõe ao risco de segregá-los. Para fugir disto é necessária, além do reconhecimento, a tolerância.

No que diz respeito ao Japão, ainda que não sejam muito conhecidas no exterior, existem diversas minorias que sofrem discriminação, como é o caso dos Ainus, dos Okinawanos, dos Burakumin, dos Hibakusha, dos muçulmanos e dos imigrantes, em grande parte coreanos, chineses e latino-americanos. Nenhum desses grupos procura separação política, ao contrário, buscam fugir do preconceito e ser reconhecidos e tratados igualmente em questões de trabalho, de relações interpessoais e no que tange a iguais oportunidades.

Os ainus são considerados um grupo indígena que possui uma cultura e traços físicos distintos dos japoneses. Eles se encontram principalmente na ilha de Hokkaido, ao norte do Japão, e são vistos como um resquício do passado, dissociados da sociedade japonesa atual. Apesar das políticas de assimilação, os ainus procuram afirmar sua identidade enquanto japoneses de características próprias, mas encontram diversos obstáculos. Não só na sociedade há discriminação, mas até em relação ao governo – sua língua não é reconhecida oficialmente, e apenas em 2008 o governo japonês passou a reconhecer o grupo indígena.

Os okinawanos também são de uma etnia diferente, e sofreram processos violentos de assimilação cultural históricos. A ilha de Okinawa, a qual foi anexada ao Japão em 1879, ainda é discriminada, pois muitos japoneses não veem os okinawanos como iguais.

Os burakumin não são discriminados por serem de uma etnia diferente, como nos casos anteriores. No período Edo, os burakumin estavam na base da pirâmide social, pois trabalhavam em profissões indignas, como a lida com cadáveres (humanos ou de animais), o que se considera algo "sujo" de acordo com a filosofia xintoísta e budista. Sob este aspecto, é possível fazer um paralelo entre os burakumin e os dalits na Índia, apesar da sociedade japonesa não ser dividida em castas. Estes sofrem discriminação principalmente no que se refere a trabalho e casamento.

Numa tentativa de reverter essa situação, foi criada a organização Burakumin Libertation League. Contudo, como ela administra os recursos estatais destinados a esta minoria, observa-se um processo de perpetuação desta burocracia, pois ao invés de resolver o problema (o que implicaria no fim da organização), essa acaba por dar continuidade à discriminação por meio do desencorajamento do diálogo entre a comunidade burakumin e o resto da sociedade.

Um grupo semelhante aos burakumin são os hibakusha, pois os discriminados também não são de um grupo étnico diferente. Eles são a parcela da sociedade japonesa que foi atingida de alguma forma pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O sentimento do resto da sociedade em relação a eles é um misto entre simpatia e medo. Alguns dos atingidos se engajaram em movimentos a favor da paz, mas isso acabou por expô-los demais, levando a uma discriminação, em especial no que se refere ao casamento: devido ao medo da má-formação das crianças, casamentos podem ser desfeitos caso venha a público que parentes diretos de um dos noivos estavam em Hiroshima ou Nagasaki na época dos desastres. Algumas famílias chegam a contratar detetives particulares para investigar a família dos noivos.

As minorias sexuais são vistas pelos japoneses como adeptas de um estilo de vida "anormal", sendo, desta forma, algo que as pessoas tentam esconder: muitos homens são casados e levam uma vida paralela, justamente para não serem classificados como "anormais". Deve-se ressaltar que antes da Era Meiji era comum o relacionamento entre homens. Entretanto, com a ocidentalização do Japão, o valor ocidental de casamento heterossexual foi incutido na sociedade japonesa. Além disso, a não legalização da união gay é um empecilho social, dado que não existem garantias legais ao casal.

Nas discussões do grupo de estudos, levantou-se que talvez a cultura popular japonesa esteja contribuindo para uma maior liberalização na sociedade. Contudo, foi ressaltado que a liberalização da homossexualidade no mundo artístico é muito maior daquela dentro do cotidiano da sociedade. Outro ponto levantado foi que essas bandas às vezes vendem a imagem de homossexualismo, não pensando no movimento, mas sim no maior lucro que eles podem obter.

Um outro problema enfrentado pelas minorias sexuais é o fato de que existe uma "minoria dentro da minoria" em que a atenção geralmente é dada apenas aos gays devido a AIDS, em detrimento das lésbicas, bissexuais e transexuais. Sobre os metrossexuais, pode-se comparar a Europa e o Japão com o Brasil, pois a sociedade brasileira os encara como gays, diferentemente do Japão e da Europa. Ressaltou-se ainda que os direitos humanos são uma construção histórica e que muitas vezes não há legislação específica para este tema, dado que se tornou uma discussão destacada e relevante recentemente.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Leão, o Dragão e o Tigre de Bengala


Homem comemorando a vitória sobre o
grupo separatista com a bandeira do Sri Lanka
               A política externa do Sri Lanka sofrerá nos próximos tempos uma imensa modificação. Depois de mais de 25 anos numa guerra civil contra um grupo separatista, conhecidos como Tigres do Tamil, o Exército conseguiu uma vitória definitiva em maio do ano passado, com um saldo de milhares de mortos.
           
            Sri Lanka: a cruzada perdida do “West”
            Tão logo houve a derrota do grupo separatista, a União Européia propôs uma censura ao governo do Sri Lanka por violações de direitos humanos na ONU (proposta que fracassou).
            A iniciativa européia demonstrou, na verdade, o que vem acontecendo nos últimos anos. Os países ocidentais desde 2006, quando irromperam novamente os conflitos entre o grupo separatista e o governo, vem pressionando o Presidente do Sri Lanka Mahinda Rajapaksa para que houvesse uma trégua e que as conversas de paz voltassem a acontecer.
            Essa  atitude foi recorrente na história do Sri Lanka: quando o governo conseguia encurralar o grupo separatista,havia uma pressão internacional para que houvesse uma trégua e negociações. Na visão do governo do Sri Lanka, foi isso que proporcionou uma vida tão longa ao grupo “rebelde”.
            Um novo jogador: o dragão
            No entanto, dessa vez o leão cingalês se negou a negociar ou ter uma trégua com o grupo separatista, apesar da pressão ocidental feita pela redução de investimentos e ajuda ao país asiático.
            Esse instrumento de barganha ocidental não teve mais o impacto de outrora, porque agora existia um outro jogador de peso na região:um dragão chinês faminto por esfera de influência, e que deseja fincar suas garras numa zona estratégica para o transporte de petróleo que é o Sri Lanka.
            Assim, enquanto as potências ocidentais se negavam ou diminuíam sua ajuda ao Sri Lanka,os chineses despejaram uma torrente de investimentos e principalmente armas (algo fundamental para um governo em guerra civil).Prova disso é o complexo portuário que está sendo construído pelos chineses no Sri Lanka.
            E junto com o dragão veio a sua corte: Paquistão (com um envio substancial de armas), Mianmar, Irã , entre outros países, que começaram a intensificar relações com o governo do Sri Lanka, blindando-o  da pressão ocidental.
            Um tigre de bengala em alerta
           O recuo ocidental e a ferocidade do dragão chinês, fez com que o tigre indiano entrasse em alerta. Segundo as autoridades indianas, a Índia é o grande poder dessa região do sul da Ásia, e isso deveria ser incontestável.
            Na verdade, a Índia está colhendo sua recente “paralisia” em relação ao Sri Lanka.O país recebeu pedidos de ajuda do governo cingalês várias vezes  durante esse tempo, e embora os investimentos indianos tenham crescido no país, a tão esperada ajuda em armas não foi feita.
            Por uma questão típica de política interna afetando política externa (no jargão teórico, um caso típico de jogo de dois níveis).Um dos partidos da coalizão do governo indiano era de origem Tamil (mesma etnia do grupo separatista),assim a Índia se viu impossibilitada de prestar a ajuda em armas para o seu país-satélite (Sri Lanka) .
            Além disso, a própria construção do complexo portuário realizado por mãos chinesas, foi proposta pelo Sri Lanka a Índia. No entanto, os indianos recusaram ,aparentemente, porque não queriam que os seus próprios portos sofressem a concorrência de um complexo portuário no país vizinho.
            O preço dessa paralisia indiana foi que o dragão e sua corte intensificaram relações com o leão cingalês. Mas é pouco provável que o tigre indiano fique impassível perante o ocorrido, já que considera o Sri Lanka sua esfera de influência.
            E o leão?
Símbolo nacional do Sri Lanka
            
         O leão cingalês pode trilhar três caminhos. O primeiro seria voltar à esfera de influência indiana, e se afastar da corte do Dragão ( o que poderia angariar  simpatia ocidental). Outra alternativa seria se tornar um membro  cativo da corte chinesa e com isso ganhar a inimizade perpétua do tigre de bengala.

        A última e mais acertada opção, na minha opinião, seria uma política externa ambígua e pendular entre Índia e China, tentando angariar o máximo de benefício dessa disputa estratégica( até mesmo mitológica) entre o tigre e o dragão.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Razão do Ataque é...?


Um ponto que tem me chamado atenção nos jornais é o conflito entre as Coréias, catalisado pelo naufrágio do navio de guerra sul-coreano “Cheonan”, no dia 26 de Março. A Coréia do Norte seria a responsável pelo ocorrido ao atacar à embarcação com um torpedo, segundo um relatório multinacional responsável pela averiguação do ocorrido, em que morreram 46 sul-coreanos.

Mas é exatamente neste ponto que meus miolos de estudante prematuro das RIs começam a fritar. Por que um ataque norte-coreano? As consequências advindas do incidente com a embarcação eram previsíveis e vem ocorrendo gradativamente: repressão e ameaças pela Coréia do Sul, conclusão de que a Coréia do Norte é culpada, sanções internacionais com participação mais ativa dos EUA, revolta do autoritário Kim Jong-il e tensão contínua entre os envolvidos, com as palavras conflito e guerra emergindo das sombras.
Supondo basicamente que os governos tomem decisões racionais e pensem no bem do regime político e/ou da população (olha a MH de novo...), vejo apenas uma hipótese em que o ataque faria sentido: Kim Jong-il visava à criação de uma tensão contra seu país, em que convencesse o povo da existência de uma armadilha capitalista e imperialista, sendo que não há provas definitivas contra o governo de Pyongyang (o relatório internacional não garante, com certeza, que a Coréia tenha feito o ataque; na verdade, nenhum estudo o fará, pelo que li). Assim, internamente, Jong-il poderia utilizar forte propaganda contra os preconceituosos, tais quais o governo sul-coreano, estadunidense, entre outros, para fortalecer o comunismo de Estado e permitir a sucessão pacífica por um de seus filhos.
Após esse impasse em achar uma hipótese que me convencesse, pensei nos outros envolvidos: Coréia do Sul e EUA. Apesar de me arriscar em uma teoria da conspiração, supus um auto-ataque, algumas vezes presente na história. Quanto aos Estados Unidos com Obama e em meio a duas guerras, não vejo lógica para tal ato. Vá lá, se ainda fosse o governo Bush e sua doutrina de “essa guerra não está dando certo, vamos para outra!” e de ataques preventivos; mas com a confusão para os EUA saírem do Iraque e do Afeganistão, investimentos crescentes nesses conflitos, crise econômica, caso iraniano e o diálogo Smart Power do governo atual, não haveria por que os americanos criarem outra guerra agora.

Por outro lado, a Coréia do Sul conseguiu apoio internacional forte, como vítima do caso, sendo que os EUA realizaram treinamento anti-submarinos conjunto ao país, além de ajudá-lo militarmente, enviando tropas para o treinamento que se somaram aos aproximadamente 29.000 soldados americanos na região fronteiriça entre as Coréias. Ademais, o contexto de eleições na Coréia do Sul também deve ser considerado, sendo que o líder sul-coreano tentou angariar apoio pelo ocorrido, mas acabou derrotado nas urnas. Apesar disso, meu lado prudente, jovem e ainda raso de conhecimento não se contenta com essa idéia; afinal, foram cidadãos sul-coreanos que morreram; seria um sacrifício de 46 compatriotas, além de constituir uma hipótese muito negativa e sedenta de muitas provas para ser validada.
Em suma, fiquei sem uma resposta satisfatória. Mas esse não é o pior lado: nem ao menos achei referências para checar o pensamento de estudiosos sobre o ocorrido. Nada nos jornais ou revistas de massa sobre a razão de tal ataque, análises, etc. Apenas notícias pontuais sobre o naufrágio, o relatório, o treinamento sul-coreano e estadunidense, mas nada tentando conectá-los ou entendê-los. É como se as relações entre os países fosse óbvia ou inexplicável, pois ambas as formas não precisariam ser discutidas. E tudo que posso afirmar neste texto, pelo que aprendi até agora, é justamente o contrário: as RIs nada tem de óbvias ou de inexplicáveis, mas sim são bem complexas.

PS: Este texto foi escrito na metade de meu primeiro ano de faculdade, também postado no blog http://iridescentes.blogspot.com/2010/08/razao-do-ataque-e.html e já mudei alguns conceitos quanto ao texto, boa parte devido ao NERI. Em relação à mídia de menor alcance, sites como o http://www.realclearworld.com/ realizaram análises mais profundas do que a mídia de grande porte.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Conflito na fronteira entre Camboja e Tailândia

       Nos últimos dias, um confronto na fronteira entre Camboja e Tailândia está perturbando a estabilidade do Sudeste Asiático. Ambos acusam o outro de ter começado o conflito.Apesar de serem freqüentes as escaramuças na área, elas estão espantando agora por durarem dias seguidos.
            O templo de Preah Vihear
       O centro da disputa é a área perto do Templo Preah Vihear , um templo sagrado, tombado como patrimônio da humanidade.É uma área fronteiriça disputada ao longo do último século pelos dois países, sendo que o templo foi considerado posse do Camboja em 1962 pela Corte Internacional de Justiça.
       No entanto, a Corte ao decidir sobre a posse do templo, se omitiu sobre uma área perto da construção, uma área fronteiriça que ambos os países reivindicam.Ou seja, um erro terrível e que ambos parecem explorar rotineiramente como forma de gerar uma crise na fronteira.
       
    Tailândia: a política das cores
 
Manifestante usando uma máscara de Thaksin Shinawatra
no levante dos camisas vermelhas em 03/2010
           É difícil saber se o começo do conflito foi causado deliberadamente por um lado, mas os analistas parecem ver a explosão desse conflito como sendo mais benéfico para o governo tailandês.
       No entanto, é preciso entender a política tailandesa antes.A Tailândia vive um caos político desde a queda do ex-primeiro ministro “populista” Thaksin Shinawatra,sofrendo uma violenta disputa entre vários grupos:os camisas vermelhas, amarelas e pretas.

Primeiro-Ministro tailandês
Abhisit Vejjajiva
    
       De um lado, estão os camisas vermelhas, apoiadores do ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra, oriundos majoritariamente do meio rural pobre, que defendem a continuidade das reformas sociais e econômicas propostas por Thaksin, antes dele ser derrubado por um golpe.
        No outro lado, estão os camisas amarelas, oriundos mais fortemente dos  de classe média e cuja ala mais conservadora parece ser composta por elementos do Exército, que se colocaram como opositores de Thaksin.Após uma série de golpes e manobras  jurídicas, os camisas amarelas  conseguiram retirá-lo do poder  em 2006 e eleger Abhisit Vejjajiva em 2008.

      É importante lembrar que Abhisit usou uma plataforma política que priorizava pontos dito populistas, ou que o aproximam de certa forma dos seus rivais políticos.Atualmente, a situação do atual primeiro-ministro é delicada.
     
     De um lado,existe a pressão popular dos camisas vermelhas, que realizaram até um levante de grandes proporções em Bangkok no último ano.Do outro, a própria coalizão que o levou ao poder parece querer se desintegrar, já que os elementos mais conservadores dos camisas amarelas criticam algumas políticas do governo.
       Além disso, o governo é obrigado a enfrentar os chamados camisas negras,um grupo de homens armados (ex-marginais, pistoleiros, ex-oficiais), cuja opção política não é clara e que parece estar mais preocupado em alimentar o caos no país.
      Uma das políticas mais criticadas pelos camisas amarelas é a política externa aparentemente suave em relação ao Camboja do atual primeiro-ministro Vejjajiva, política externa essa herdada do seu rival político Thaksin Shinawatra.
     Considerando todo esse contexto, um pequeno conflito com o Camboja seria uma espécie de benção para o governo tailandês.Primeiro , acalmaria os ânimos das facções mais conservadoras que apóiam o atual governo.Em segundo lugar, com um possível conflito, o governo talvez conseguisse unir o país frente a um inimigo comum, ou pelo menos usar do conflito para esmagar com mais força os opositores enquanto os flashes estariam voltados para a guerra entre os dois países.
     Talvez o que impeça um cenário mais catastrófico, seja o fato do atual primeiro-ministro almejar a diminuição do papel do Exército na política tailandesa, o que poderia impedir que o conflito “fortuito” se torne uma guerra.Ele tenta, na verdade,  construir uma coalizão de centro que consiga sustentá-lo no poder.
      Em suma,  na guerra das cores  todos acabam perdendo: a Tailândia, seus vizinhos, as populações, e a humanidade, já que, segundo informações, os recentes confrontos derrubaram uma parte do templo Preah Vihear(um patrimônio da humanidade).

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O começo de uma jornada

      Boa noite a todos,
     
      Hoje começa o blog Núcleo de Estudos em Relações Internacionais  que se destina a estudar com um enfoque regional temas relevantes das RIs.Esse será um espaço onde colocaremos nossas discussões, nossas opiniões sobre acontecimentos,papers, trabalhos e divulgaremos eventos do NERI.

       Esperamos que esse blog seja uma importante contribuição para o curso de Relações Internacionais, uma contribuição feita por estudantes e para os estudantes.A jornada é longa, mas toda jornada começa com o primeiro passo.O primeiro passo é este blog.Espero que todos gostem do nosso trabalho.

Abraços,


André