domingo, 10 de abril de 2011

Minorias japonesas: étnicas e sexuais

A grande questão em volta do tema de minorias é se devemos assimilar os segmentos sociais como integrantes da sociedade – de características auto-proclamadas homogêneas – ou não. Ao assimilá-las, acabamos por destruir as referências culturais que os distinguiam da sociedade, mas colocamos um fim no processo de discriminação, pois contribuímos para a homogeneização social. Entretanto, a não integração desses grupos como identidade reconhecida e preservada nos expõe ao risco de segregá-los. Para fugir disto é necessária, além do reconhecimento, a tolerância.

No que diz respeito ao Japão, ainda que não sejam muito conhecidas no exterior, existem diversas minorias que sofrem discriminação, como é o caso dos Ainus, dos Okinawanos, dos Burakumin, dos Hibakusha, dos muçulmanos e dos imigrantes, em grande parte coreanos, chineses e latino-americanos. Nenhum desses grupos procura separação política, ao contrário, buscam fugir do preconceito e ser reconhecidos e tratados igualmente em questões de trabalho, de relações interpessoais e no que tange a iguais oportunidades.

Os ainus são considerados um grupo indígena que possui uma cultura e traços físicos distintos dos japoneses. Eles se encontram principalmente na ilha de Hokkaido, ao norte do Japão, e são vistos como um resquício do passado, dissociados da sociedade japonesa atual. Apesar das políticas de assimilação, os ainus procuram afirmar sua identidade enquanto japoneses de características próprias, mas encontram diversos obstáculos. Não só na sociedade há discriminação, mas até em relação ao governo – sua língua não é reconhecida oficialmente, e apenas em 2008 o governo japonês passou a reconhecer o grupo indígena.

Os okinawanos também são de uma etnia diferente, e sofreram processos violentos de assimilação cultural históricos. A ilha de Okinawa, a qual foi anexada ao Japão em 1879, ainda é discriminada, pois muitos japoneses não veem os okinawanos como iguais.

Os burakumin não são discriminados por serem de uma etnia diferente, como nos casos anteriores. No período Edo, os burakumin estavam na base da pirâmide social, pois trabalhavam em profissões indignas, como a lida com cadáveres (humanos ou de animais), o que se considera algo "sujo" de acordo com a filosofia xintoísta e budista. Sob este aspecto, é possível fazer um paralelo entre os burakumin e os dalits na Índia, apesar da sociedade japonesa não ser dividida em castas. Estes sofrem discriminação principalmente no que se refere a trabalho e casamento.

Numa tentativa de reverter essa situação, foi criada a organização Burakumin Libertation League. Contudo, como ela administra os recursos estatais destinados a esta minoria, observa-se um processo de perpetuação desta burocracia, pois ao invés de resolver o problema (o que implicaria no fim da organização), essa acaba por dar continuidade à discriminação por meio do desencorajamento do diálogo entre a comunidade burakumin e o resto da sociedade.

Um grupo semelhante aos burakumin são os hibakusha, pois os discriminados também não são de um grupo étnico diferente. Eles são a parcela da sociedade japonesa que foi atingida de alguma forma pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. O sentimento do resto da sociedade em relação a eles é um misto entre simpatia e medo. Alguns dos atingidos se engajaram em movimentos a favor da paz, mas isso acabou por expô-los demais, levando a uma discriminação, em especial no que se refere ao casamento: devido ao medo da má-formação das crianças, casamentos podem ser desfeitos caso venha a público que parentes diretos de um dos noivos estavam em Hiroshima ou Nagasaki na época dos desastres. Algumas famílias chegam a contratar detetives particulares para investigar a família dos noivos.

As minorias sexuais são vistas pelos japoneses como adeptas de um estilo de vida "anormal", sendo, desta forma, algo que as pessoas tentam esconder: muitos homens são casados e levam uma vida paralela, justamente para não serem classificados como "anormais". Deve-se ressaltar que antes da Era Meiji era comum o relacionamento entre homens. Entretanto, com a ocidentalização do Japão, o valor ocidental de casamento heterossexual foi incutido na sociedade japonesa. Além disso, a não legalização da união gay é um empecilho social, dado que não existem garantias legais ao casal.

Nas discussões do grupo de estudos, levantou-se que talvez a cultura popular japonesa esteja contribuindo para uma maior liberalização na sociedade. Contudo, foi ressaltado que a liberalização da homossexualidade no mundo artístico é muito maior daquela dentro do cotidiano da sociedade. Outro ponto levantado foi que essas bandas às vezes vendem a imagem de homossexualismo, não pensando no movimento, mas sim no maior lucro que eles podem obter.

Um outro problema enfrentado pelas minorias sexuais é o fato de que existe uma "minoria dentro da minoria" em que a atenção geralmente é dada apenas aos gays devido a AIDS, em detrimento das lésbicas, bissexuais e transexuais. Sobre os metrossexuais, pode-se comparar a Europa e o Japão com o Brasil, pois a sociedade brasileira os encara como gays, diferentemente do Japão e da Europa. Ressaltou-se ainda que os direitos humanos são uma construção histórica e que muitas vezes não há legislação específica para este tema, dado que se tornou uma discussão destacada e relevante recentemente.

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