segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Leão, o Dragão e o Tigre de Bengala


Homem comemorando a vitória sobre o
grupo separatista com a bandeira do Sri Lanka
               A política externa do Sri Lanka sofrerá nos próximos tempos uma imensa modificação. Depois de mais de 25 anos numa guerra civil contra um grupo separatista, conhecidos como Tigres do Tamil, o Exército conseguiu uma vitória definitiva em maio do ano passado, com um saldo de milhares de mortos.
           
            Sri Lanka: a cruzada perdida do “West”
            Tão logo houve a derrota do grupo separatista, a União Européia propôs uma censura ao governo do Sri Lanka por violações de direitos humanos na ONU (proposta que fracassou).
            A iniciativa européia demonstrou, na verdade, o que vem acontecendo nos últimos anos. Os países ocidentais desde 2006, quando irromperam novamente os conflitos entre o grupo separatista e o governo, vem pressionando o Presidente do Sri Lanka Mahinda Rajapaksa para que houvesse uma trégua e que as conversas de paz voltassem a acontecer.
            Essa  atitude foi recorrente na história do Sri Lanka: quando o governo conseguia encurralar o grupo separatista,havia uma pressão internacional para que houvesse uma trégua e negociações. Na visão do governo do Sri Lanka, foi isso que proporcionou uma vida tão longa ao grupo “rebelde”.
            Um novo jogador: o dragão
            No entanto, dessa vez o leão cingalês se negou a negociar ou ter uma trégua com o grupo separatista, apesar da pressão ocidental feita pela redução de investimentos e ajuda ao país asiático.
            Esse instrumento de barganha ocidental não teve mais o impacto de outrora, porque agora existia um outro jogador de peso na região:um dragão chinês faminto por esfera de influência, e que deseja fincar suas garras numa zona estratégica para o transporte de petróleo que é o Sri Lanka.
            Assim, enquanto as potências ocidentais se negavam ou diminuíam sua ajuda ao Sri Lanka,os chineses despejaram uma torrente de investimentos e principalmente armas (algo fundamental para um governo em guerra civil).Prova disso é o complexo portuário que está sendo construído pelos chineses no Sri Lanka.
            E junto com o dragão veio a sua corte: Paquistão (com um envio substancial de armas), Mianmar, Irã , entre outros países, que começaram a intensificar relações com o governo do Sri Lanka, blindando-o  da pressão ocidental.
            Um tigre de bengala em alerta
           O recuo ocidental e a ferocidade do dragão chinês, fez com que o tigre indiano entrasse em alerta. Segundo as autoridades indianas, a Índia é o grande poder dessa região do sul da Ásia, e isso deveria ser incontestável.
            Na verdade, a Índia está colhendo sua recente “paralisia” em relação ao Sri Lanka.O país recebeu pedidos de ajuda do governo cingalês várias vezes  durante esse tempo, e embora os investimentos indianos tenham crescido no país, a tão esperada ajuda em armas não foi feita.
            Por uma questão típica de política interna afetando política externa (no jargão teórico, um caso típico de jogo de dois níveis).Um dos partidos da coalizão do governo indiano era de origem Tamil (mesma etnia do grupo separatista),assim a Índia se viu impossibilitada de prestar a ajuda em armas para o seu país-satélite (Sri Lanka) .
            Além disso, a própria construção do complexo portuário realizado por mãos chinesas, foi proposta pelo Sri Lanka a Índia. No entanto, os indianos recusaram ,aparentemente, porque não queriam que os seus próprios portos sofressem a concorrência de um complexo portuário no país vizinho.
            O preço dessa paralisia indiana foi que o dragão e sua corte intensificaram relações com o leão cingalês. Mas é pouco provável que o tigre indiano fique impassível perante o ocorrido, já que considera o Sri Lanka sua esfera de influência.
            E o leão?
Símbolo nacional do Sri Lanka
            
         O leão cingalês pode trilhar três caminhos. O primeiro seria voltar à esfera de influência indiana, e se afastar da corte do Dragão ( o que poderia angariar  simpatia ocidental). Outra alternativa seria se tornar um membro  cativo da corte chinesa e com isso ganhar a inimizade perpétua do tigre de bengala.

        A última e mais acertada opção, na minha opinião, seria uma política externa ambígua e pendular entre Índia e China, tentando angariar o máximo de benefício dessa disputa estratégica( até mesmo mitológica) entre o tigre e o dragão.

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