terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A Incógnita

O país com o regime mais fechado e contraditório do mundo, a Coréia do Norte, passa por um momento no mínimo conturbado. A crescente situação de pobreza e fome permanece uma constante e agora o país perde seu "querido líder", Kim Jong-Il, morto oficialmente no último dia 17. Oficialmente o sucessor será seu filho Kim Jong-Un, contudo informações de agências internacionais dão conta de que ele dividirá o poder com o alto comando das forças armadas norte-coreanas e com seu tio, Jang Song-Taek.
                                              Kim Jong-Il, o pai
As incertezas que pairam sobre o país são grandes e se tornam ainda maiores por conta das únicas informações oficiais serem transmitidas pela rede estatal norte-coreana, duramente controlada pelo governo de Pyongyang e famosa por repassar ao mundo apenas o que é de "interesse nacional". Dentro deste contexto, fica muito difícil analisar ou prever que caminho a Coréia do Norte vai tomar, se é o da abertura gradual do sistema, ou mantê-lo fechado e isolado.

A única coisa que pode ser dada como certa é que o regime passa por uma instabilidade: desde que se iniciou a preparação para suceder seu pai, especula-se que Kim Jong-Un não é bem visto pela linha dura do comando norte-coreano, com quem dividirá o poder. Esta rixa pode ser pelos mais variados motivos, levando a um sem-fim de possibilidades de futuro. Jong-Un pode ser malvisto pelas forças armadas simplesmente por ser jovem demais (estima-se que ele tenha aproximadamente 28 anos) ou, o que seria pior para o regime e para o mundo, por divergências políticas.
Chang Song-Taek, o Tio
Tradicionalmente a linha-dura militar, não apenas da Coréia do Norte, é adepta de regimes mais fechados e hostis aos vizinhos. Não é difícil deduzir daí que os militares norte-coreanos sejam a favor de o regime se manter fechado e que se continue privilegiando os investimentos em armas e tecnologia nuclear em detrimento de, por exemplo, colocar comida na mesa da população. É certo também que a política externa de um regime militarista é muito mais hard power do que soft power, e ser mais hard power naquele país é algo extremamente perigoso. Se a postura do exército parece bem definida, a do jovem líder norte-coreano é bastante obscura, em tese ele pode ser tanto pró-militarismo, quanto ter ideias mais liberais, o que levaria a já comentada rixa política. O pouco que se sabe de Kim Jong-Un é que ele estudou na Suíça e era fã de basquete norte-americano, o bastante para se especular que ele seja mais aberto que a cúpula militar, mas ainda muito pouco para se ter certeza de qualquer coisa.

Caso haja realmente a divergência de opinião, é provável que o alto comando do exército tome as rédeas do governo e coloque Jong-Un de lado, usando de sua imagem de "querido líder" apenas para manter o controle sobre a população. Ainda há a possibilidade de Jong-Un endurecer sua postura para agradar os poderosos militares norte-coreanos, dando demonstrações de força e criando mais atritos com a Coréia do Sul e o Japão. Em ambas as situações, as tensões na região se agravariam.
                                                        Kim Jong-Un, o sucessor?
Por outro lado, uma comunhão de ideias maior entre exército e Jong-Un levaria a uma transição de poder mais tranquila, embora mantivesse o país ainda muito fechado e investindo em armas, a despeito do sofrimento do povo norte-coreano. Esta é a hipótese que a agência estatal de notícias da Coréia do Norte parece querer divulgar, segundo algumas notas recentes, e de que neste pacto político entre forças armadas, Jong-Un e Song-Taek, o jovem filho de Kim Jong-Il será o comandante supremo, inclusive das forças armadas.

Mas toda essa análise, não vale de muita coisa. Com o pouco de informação disponível que se tem, qualquer análise sobre o futuro da Coréia do Norte não passa de mero palpite. A morte de Kim Jong-Il, tão comemorada por alguns, agrava ainda mais a situação de um regime que vem ruindo desde a queda da União Soviética, em 1991. Esse fato pode levar aos mais diferentes resultados, desde uma aproximação maior com o Sul, retomando a política de sunshine, até a quebra do armistício de 27 de Julho de 1953, fazendo com que as duas Coréias entrem em guerra novamente. E tudo isso depende principalmente da vontade e da ação de um único jovem, Kim Jong-Un, e de como ele vai lidar com os conflitos dentro da cúpula do governo da Coréia do Norte.