terça-feira, 10 de maio de 2011

A China por uma Coréia Reunificada


A China tem uma política externa de longo prazo equivocada para a península coreana que é proteger e manter o regime norte-coreano para evitar uma Coréia reunificada.  No entanto, penso que a estratégia chinesa é míope ao pensar que dividida a península, a China impera. O melhor para a China seria uma Coréia reunificada de forma pacífica.

Kim-Jong-un
Para realizar a atual estratégia, a China vê como primordial manter sua influência sobre a Coréia do Norte, protegendo-a. Isso porque espera ter ainda mais influência sobre a nova liderança norte-coreana, com a iminente morte de Kim Jong-il,mantendo a Coréia do Norte como um país satélite e um “buffer zone” entre a China e os aliados dos EUA: Coréia do Sul e Japão.Tudo parece apontar que o sucessor será o inexperiente e jovem terceiro filho do líder norte-coreano, Kim Jong-un.Ele precisará do apoio chinês para se estabelecer no poder em um país marcado por uma crise econômica estrutural  e  grande insatisfação popular.

A questão é se a uma Coréia do Norte satélite ou uma Coréia unida serviria melhor aos interesses chineses. A lógica chinesa por trás da atual estratégia é simples e antiga: manter a qualquer custo um Estado tampão, motivo pelo qual os chineses se envolveram na Guerra da Coréia na década de 50.

No entanto, existem três erros. O primeiro erro é acreditar que a situação norte-coreana é sustentável, já que o Estado está à beira da ruína. O segundo erro é que a China conseguiria controlar a Coréia do Norte.O atual líder norte-coreano tem uma política externa chamada  de “madman policy” e nada podemos prever com certeza a respeito do seu filho.

O terceiro erro é considerar que uma Coréia unida seria uma Coréia pró-EUA ou mesmo uma Coréia que poderia contrabalancear o poderio chinês. Primeiro, a Coréia mesmo unida não tem recursos para contrabalancear a China. Além disso, uma Coréia reunificada, sob a benção chinesa, seria um sério golpe ao  poder norte-americano na região.

Isso porque a legitimidade para a presença norte-americana na região está baseada fortemente na existência da Coréia do Norte. Com a Coréia unida, provavelmente, o apoio à presença dos EUA na região sofreria um forte abalo tanto entre os coreanos como entre os japoneses.Na verdade, entre os japoneses tal presença já é bem controversa, haja visto a queda de popularidade de Hatoyama, quando ele cedeu a pressão norte-americana no caso da base militar de Okinawa, e que acabou derrubando-o do cargo de primeiro-ministro.

O objetivo correto para a política externa chinesa seria ajudar as Coréias a se reunificarem, aproveitando a oportunidade única que será a futura troca de liderança norte-coreana para pressionar o país a estreitar laços com a vizinha do sul até um ponto onde se comece a negociar a desnuclearização (questão que também interessa a China) e depois a reunificação. A estabilidade na região continuaria, a China angariaria um enorme prestígio como ator responsável e fortaleceria o leste asiático como área de influência chinesa.

A China poderia até mesmo ajudar a Coréia unificada a reconstruir a parte norte do país, o que conjuntamente com a crescente interdependência econômica entre a China e Coréia do Sul, poderia atrair a Coréia para a esfera de influência chinesa ou pelo menos torná-la neutra.

Para isso, Beijing deve manter sua política ambígua, no curto prazo, de se mostrar com um ator responsável, e ai mesmo tempo proteger a Coréia do Norte de sanções a fim de controlá-la minimamente e esperar pela troca de liderança.Em suma, contrariamente ao que diz o provérbio “dividir para imperar”, a China deveria, no caso coreano, “ajudar a reunificar para imperar”.