Nos últimos dias, um confronto na fronteira entre Camboja e Tailândia está perturbando a estabilidade do Sudeste Asiático. Ambos acusam o outro de ter começado o conflito.Apesar de serem freqüentes as escaramuças na área, elas estão espantando agora por durarem dias seguidos.
O templo de Preah Vihear
O centro da disputa é a área perto do Templo Preah Vihear , um templo sagrado, tombado como patrimônio da humanidade.É uma área fronteiriça disputada ao longo do último século pelos dois países, sendo que o templo foi considerado posse do Camboja em 1962 pela Corte Internacional de Justiça.
No entanto, a Corte ao decidir sobre a posse do templo, se omitiu sobre uma área perto da construção, uma área fronteiriça que ambos os países reivindicam.Ou seja, um erro terrível e que ambos parecem explorar rotineiramente como forma de gerar uma crise na fronteira.
Tailândia: a política das cores
É difícil saber se o começo do conflito foi causado deliberadamente por um lado, mas os analistas parecem ver a explosão desse conflito como sendo mais benéfico para o governo tailandês.
Manifestante usando uma máscara de Thaksin Shinawatra no levante dos camisas vermelhas em 03/2010 |
No entanto, é preciso entender a política tailandesa antes.A Tailândia vive um caos político desde a queda do ex-primeiro ministro “populista” Thaksin Shinawatra,sofrendo uma violenta disputa entre vários grupos:os camisas vermelhas, amarelas e pretas.
De um lado, estão os camisas vermelhas, apoiadores do ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra, oriundos majoritariamente do meio rural pobre, que defendem a continuidade das reformas sociais e econômicas propostas por Thaksin, antes dele ser derrubado por um golpe.
Primeiro-Ministro tailandês Abhisit Vejjajiva |
De um lado, estão os camisas vermelhas, apoiadores do ex-primeiro ministro Thaksin Shinawatra, oriundos majoritariamente do meio rural pobre, que defendem a continuidade das reformas sociais e econômicas propostas por Thaksin, antes dele ser
No outro lado, estão os camisas amarelas, oriundos mais fortemente dos de classe média e cuja ala mais conservadora parece ser composta por elementos do Exército, que se colocaram como opositores de Thaksin.Após uma série de golpes e manobras jurídicas, os camisas amarelas conseguiram retirá-lo do poder em 2006 e eleger Abhisit Vejjajiva em 2008.
É importante lembrar que Abhisit usou uma plataforma política que priorizava pontos dito populistas, ou que o aproximam de certa forma dos seus rivais políticos.Atualmente, a situação do atual primeiro-ministro é delicada.
De um lado,existe a pressão popular dos camisas vermelhas, que realizaram até um levante de grandes proporções em Bangkok no último ano.Do outro, a própria coalizão que o levou ao poder parece querer se desintegrar, já que os elementos mais conservadores dos camisas amarelas criticam algumas políticas do governo.
É importante lembrar que Abhisit usou uma plataforma política que priorizava pontos dito populistas, ou que o aproximam de certa forma dos seus rivais políticos.Atualmente, a situação do atual primeiro-ministro é delicada.
De um lado,existe a pressão popular dos camisas vermelhas, que realizaram até um levante de grandes proporções em Bangkok no último ano.Do outro, a própria coalizão que o levou ao poder parece querer se desintegrar, já que os elementos mais conservadores dos camisas amarelas criticam algumas políticas do governo.
Além disso, o governo é obrigado a enfrentar os chamados camisas negras,um grupo de homens armados (ex-marginais, pistoleiros, ex-oficiais), cuja opção política não é clara e que parece estar mais preocupado em alimentar o caos no país.
Uma das políticas mais criticadas pelos camisas amarelas é a política externa aparentemente suave em relação ao Camboja do atual primeiro-ministro Vejjajiva, política externa essa herdada do seu rival político Thaksin Shinawatra.
Considerando todo esse contexto, um pequeno conflito com o Camboja seria uma espécie de benção para o governo tailandês.Primeiro , acalmaria os ânimos das facções mais conservadoras que apóiam o atual governo.Em segundo lugar, com um possível conflito, o governo talvez conseguisse unir o país frente a um inimigo comum, ou pelo menos usar do conflito para esmagar com mais força os opositores enquanto os flashes estariam voltados para a guerra entre os dois países.
Talvez o que impeça um cenário mais catastrófico, seja o fato do atual primeiro-ministro almejar a diminuição do papel do Exército na política tailandesa, o que poderia impedir que o conflito “fortuito” se torne uma guerra.Ele tenta, na verdade, construir uma coalizão de centro que consiga sustentá-lo no poder.
Em suma, na guerra das cores todos acabam perdendo: a Tailândia, seus vizinhos, as populações, e a humanidade, já que, segundo informações, os recentes confrontos derrubaram uma parte do templo Preah Vihear(um patrimônio da humanidade).
Muito interessante o texto André. Além de deixar claro a conjuntura da Tailândia e as possíveis causas do conflito, apresenta ótima fluidez. Interessante observar como em tal área do mundo é recorrente a solução de criar um inimigo comum e adotar a imagem de espelho (nós somos bons; inimigos são ruins; portanto, nos unamos contra eles!). Além disso, observar as dificuldades de negociar uma solução ótima em um contexto deturpado e de vários interesses grupais. Valeu pelo texto. Abraço!
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