terça-feira, 15 de maio de 2012

Entre a Rússia e a Europa

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não apenas deixou de existir como eixo político socialista e potência mundial. Deixou de existir como estado único, deixando como herança um sucessor e diversos outros estados menores, tanto na Europa, quanto na Ásia Central. Dentre estes estados menores, os primeiros a conquistarem independência foram as três repúblicas bálticas: Letônia, Estônia e Lituânia.


Mapa das três repúblicas do Báltico, com suas capitais.

Hoje, mais de 20 anos depois da separação formal, os dilemas de política externa das três repúblicas continuam parecidos: tentar fugir da esfera de influência russa e se inserir dentro do contexto de unidade europeu. É natural que estes países busquem uma aproximação política maior com a Europa, porque são tradicionalmente mais europeus do que russos do ponto de vista cultural e histórico. E em segundo lugar, porque todas as dominações russas que houveram nestes três países nos últimos dois séculos, principalmente, foram bastante traumáticas e deixaram marcas profundas na sociedade.

A Lituânia foi um reino independente e católico pelo menos desde os anos 1300, e nos séculos seguintes formou uma união com a Polônia, até ser dominada pelo Império Russo no final século XVIII. A Letônia não gozou de tamanha autonomia no período, tendo sido dominada por teutônicos e pelos próprios lituanos, até a invasão russa. A Estônia por fim, desde a idade média teve grandes disputas em seu território, travadas por escandinavos, russos e outros países da Europa Oriental.

Ou seja, durante um período de por volta de 450 anos, as região onde estão localizadas as repúblicas bálticas e suas etnias se relacionaram muito mais com países europeus - sejam relações para o bem ou para o mal - do que com seus vizinhos russos, que durante a maior parte deste período também organizava-se como estado internamente. Somente nos últimos 200 anos, aproximadamente, é que a Rússia teve um papel central dentro da vida destes pequenos países.

Vista da cidade de Tallinn, capital da Estônia.

O panorama histórico abre dois caminhos. O primeiro é a proximidade cultural com a Europa, construída durante estes anos de relação com países do continente, e o segundo é o impacto que a dominação russa recente causou nestas sociedades. Na Lituânia, além da maioria da população ser de etnia lituana mesmo, mais de 80% da população é católica, uma religião tipicamente européia. Na Letônia, a maioria étnica (62%, aproximadamente) também é letã, e a maioria religiosa é cristã protestante e católica. Por fim, os estonianos compõem 68,1% dos grupos étnicos da Estônia, enquanto que a situação religiosa do país é bastante singular, com um índice de ateus altíssimo. Dentre os religiosos, protestantes são maioria seguidos de perto por ortodoxos.

Além da proximidade já comprovada com os países à oeste, a aversão que os bálticos tem em relação a Rússia é bastante justificada. Desde os períodos de dominação do Império Russo, passando por União Soviética, os governo de São Petersburgo e Moscou trataram a região com mão de ferro, com destaque para o processo de russificação: a transferência de russos para região e de locais para outros pontos do país, de modo a diluir a maioria da etnia local e dificultar a oposição ao governo central.

Vista da cidade de Riga, capital da Letônia.

Por fim, depois de passar por todos os elementos históricos e culturais que afastam os bálticos da Rússia e os colocam próximos a Europa, é preciso analisar as vantagens da associação com europeus. Apesar da crise econômica que afeta alguns países da União Européia, diversos dados apontam que a entrada no bloco é bastante benéfico para a economia em geral. E com estas três repúblicas não foi diferente: melhora nos índices de inflação e crescimento alto do PIB. Uma vez dentro do bloco e unidos com a Europa, ficou mais difícil que a "ameaça russa" volte a rondar Estônia, Letônia e Lituânia.

Vista da cidade de Vilnius, capital da Lituânia

Olhando para a política externa das três repúblicas bálticas percebe-se uma convergência entre valores e pragmatismo, o que nem sempre ocorre em outras ocasiões. Convergência esta, que vem garantindo ótimos resultados. Apesar de ainda depender do antigo dominador em algumas áreas, como o fornecimento de gás natural, tanto Letônia, Estônia e Lituânia desfrutam não apenas dos benefícios econômicos e sociais da União Européia, mas também de um benefício circunstancial, a independência de um parceiro indesejado.


* Revisado por Letícia Simões Gomes e Marília Ramos

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