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Após 17 anos de negociações, a Rússia finalmente se torna membro da Organização Mundial de Comércio. |
Putin espera que essa diminuição dos preços faça com que as camadas médias e altas da Rússia passem a ter maior sobra de dinheiro para investir e consumir mais. Além disso, ele espera atrair investimento externo através da adequação às normas da OMC, sinalizando confiança e estabilidade para os investidores. Assim, é esperado que o país desenvolva alguns setores pouco complexos economicamente e melhore sua infra-estrutura no médio prazo, inclusive tornando suas exportações mais competitivas.
Os produtores de commodities serão pouco afetados pelas regras da OMC, visto que a organização pouco regula o comércio de produtos primários ao redor do mundo. O máximo que poderia acontecer seria a redução de subsídios porém, como a produção russa no setor já é muito eficiente, é provável que o país continue a exportar muito petróleo, gás natural e derivados para os outros países europeus. O setor de armas, outro ponto forte das exportações russas, não é contemplado pela Organização.
A priori, a ampliação do livre-comércio na Rússia - com diminuição de tarifas, maior liberalização do comércio e diminuição do peso do Estado na economia - é vista de maneira louvável pelos economistas em geral. Todavia, há vozes dissonantes, tanto internas quanto externas, que acreditam que pouco irá mudar para o povo russo, ou que ainda as medidas podem levar o país a problemas de ordem socioeconômica, como desemprego. É preferível fazer uma análise mais específica, e verificar quais grupos ou países ganham e quais perdem com uma maior abertura comercial de Moscou.
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Plataforma de extração de gás da Gazprom, gigante estatal da Rússia no setor. Empresas de gás e petróleo não serão tão afetadas pelos acordos comerciais com a OMC. |
Contudo, nem tudo são flores. Alguns industriais russos, especialmente do já citado setor de bens de consumo, devem sofrer pesadas consequências. O parque obsoleto - com algumas plantas da era soviética - e a mão-de-obra relativamente cara em comparação a trabalhadores de mesma qualificação ao redor do mundo, tornam alguns setores industriais extremamente ineficientes, como é o caso do setor automobilístico. A entrada massiva de produtos estrangeiros fará com que estas empresas não se sustentem deixem de existir em algum momento, elevando da taxa de desemprego. Percebemos, então, porque a principal voz opositora da entrada na OMC dentro da Rússia é o Partido Comunista, ligado a sindicatos e ao operariado em geral.
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Os carros Lada se tornaram símbolo da ineficiência da indústria russa de bens de consumo. |
A análise de ganhos e perdas feita acima é bastante simples. Mas passa uma mensagem importante: em economia, especialmente em comércio internacional, não há ganhos e perdas absolutos. Há grupos que ganham e grupos que perdem e assim será na Rússia. Os ganhos, aparentemente, parecem maiores que as perdas, principalmente no longo prazo, com a economia já acomodada. O curto prazo é mais perigoso. Uma mudança deste tamanho gera impactos expressivos na economia e, por conseguinte, perdas expressivas para alguns setores, que devem ser minimizadas.
Politicamente, a Rússia fez o que tinha que fazer. Parece cada vez mais inserida e disposta a uma integração global. Agora precisa trabalhar para mostrar que do ponto de vista econômico a decisão também foi acertada.
* Revisão por Letícia Simões Gomes e Marília Ramos